Os sete pecados sem texto

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Pegar nos sete pecados mortais e explorá-los em palco. Sem palavras, apenas quadros estéticos numa sequência de situações extremas. Encenado para adivinhar. Acordeão, sapatos vermelhos, tela com exibição de nuvens e de sombras, carícias-malícias, silêncio profundo, gritos histéricos, uma pitada de nudez. O homem, a mulher e o número sete que não os larga.

Um baú que serve para tudo. Até para as metáforas que lhe queiramos inventar. Plagiai foi apresentado TeatrUBI (grupo da Universidade de Beira Interior – Covilhã) e assumiu-se como performance contínua de pecados interligados. A ausência de texto intriga – estamos ou não preparados para aceitar um actor a comunicar sem recurso à palavra. António Abernú, encenador do quadro, explica em texto assinado: «O recurso a uma linguagem não verbal e à ausência de um texto levou todo o processo de criação a fortes incertezas sobre o que é o teatro ou do que se pode com ele fazer». É legítimo. Desta voz sincera sai a opinião que defende que este espectáculo só teria a ganhar com uma jorrada de texto bem construída. E, já agora, com menos minutos de um quadro que apresentava uma dança provocadora, a quatro, com línguas nos lábios e auto-carícias no corpo e música constrangedora de fundo (qualquer coisa ride me babe). Isso, como muito se vê entre vómitos nas discotecas da moda. Enfim, opiniões.

Depois há a interactividade tímida. Foi distribuído na bilheteira um papelinho onde cada espectador teria que escolher um dos sete pecados com o qual mais afinidades deveria ter. Resultados, lidos muito perto do final do espectáculo: 27 por cento inclinou-se para a luxúria, 21 para a gula e preguiça, 13 de arrogância, 9 de ira, 7 de avareza e 2 por cento de inveja. Mas, como todos os políticos muito bem nos ensinam, os números e as sondagens valem o que valem, deixemo-los respirar livremente e cada um que conclua o que quiser. Mea Culpa colectiva.

Ora, para além da ausência total de texto, será igualmente difícil encontrar em Plagiai uma narrativa lógica e assumida. Mais uma sequência experimental de quadros, exercícios de expressão dramática cozidos a agulha, novelo de pecados e tentativas falhadas de redenção. Para quê? Porquê? Ainda o encenador: pela «procura de sintetizar e criar uma essência para cada pecado, onde os espectadores se possam encontrar e, inconscientemente, fazer um julgamento de si dos outros». Que levante o dedo e a voz o primeiro que achar que tal empreitada não é legítima. Por aqui, consente-se.
Está encerrada a sessão.     

Uma resposta to “Os sete pecados sem texto”

  1. logo Says:

    Bem dito….

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